| POESIA MUNDIAL EM PORTUGUÊS 
 
 ISSA     Kobayashi  Issa (小林一茶? 15 de  junho de 1763 – 5 de janeiro de 1827) foi um escritor e poeta japonês. Nasceu  em 1763, filho de um fazendeiro, em uma aldeia do atual distrito de Nagano, e  faleceu em 1827, sob o nome Yataro Kobayashi. Teve  uma biografia atormentada, que explorou em diários, marcada pelas desavenças  familiares, pela morte de vários filhos e outros desgostos, como a morte da  primeira esposa. O tema da orfandade, presente em sua vida, explorou também em  poemas, como no seguinte, um dos mais famosos dele: Venha brincar comigo,  pardalzinho sem pai nem mãe. Aprende  a ler com um poeta. Aos 25 anos, foi estudar haicai com um professor chamado  Chikua, que seguia a tradição de Basho, e em cujo grupo Issa publicou diversos  poemas, vindo a tornar-se o mestre do grupo com a morte do professor. Foi  afastado um ano depois, por diferenciar-se demais do haiaku ortodoxo,  acredita-se. Viajou pelos próximos dez anos para ocupar o tempo e em algum  momento se tornou sacerdote budista. No entanto, Issa casou-se novamente aos 63  anos e mais uma vez aos 64 anos. A  propriedade deixada pelo pai como herança rendeu diversos conflitos entre Issa  e a madastra e filhos desta. Em 1827 a casa que gerou discussão por motivos de  herança sofreu um incêndio. Era novembro de 1827, quando Issa falece deixa uma  esposa e uma filha ainda não nascida.   Características da obra Issa  é lembrado como grande autor de haikai, sendo o mais importante autor deste  gênero na terceira fase clássica do haiku japonês, demonstrando subjetivismo,  crítica social e piedade, e diferenciando-se, do primordial haiku, voltado à  contemplação da natureza e da realidade concreta, dos quais o observador zen  não retira conclusões, senão físicas (haiku de Bashô), as quais servirão como  exemplo para outras conclusões através de analogia. Diferencia-se  da segunda fase (Buson) do haiku, igualmente, o qual agrega um elemento  "beletrista" e, timidamente, crítico social. Outro  diferencial é que, na obra de Issa, as referências às estações do ano não são  obrigatórias, como na maior parte do haiacaísmo clássico, sendo também o apelo  aos sentidos, principalmente à imaginação visual, menos intenso. O  elemento humano aparece mais claramente. Críticos contrários a ele o acusam de  um certo sentimentalismo, o que seria considerado uma degeneração do haicu, e  por isso fala-se em um período de "restauração di haiku",  naturalmente, posterior a Issa. No  entanto, seus poemas o tornaram popular por explorarem um certo lado cômico e  até nonsense da vida e da natureza, como neste: Apenas estando aqui,/estou  aqui,/e a neve cai.    O LIVRO DOS HAI-KAIS. Prefácio de Octavio Paz. Trad. de Olga Savary. Desenhos de Manabu  Mabe.  São Paulo: Massao Ohno; Roswitha  Kempf, 1980.   134 p.  ilus.col.   Edição de 1.500 exs.  Ex. bibl.  Antonio Miranda (Seleção)                Quando  eu morrer,vem  guardar meu túmulo,
 grilo!
 
              *
 A lua brilha
 e  não há sarça por pequena que seja
 que  não se sinta em festa!
 
              *
 A neve se desfaz
 e  a aldeia está inundada
 de  crianças.
              *
              Orvalho  deste mundo...
 Orvalho  deste mundo... Sim, sem dúvida,
 e no entanto...
  *
                Ganso,  ganso selvagem,com  que idade fizeste
 tua  primeira viagem?
                *        Agora  que sou velho
 o  povo me inveja:
 porém,  como faz frio!
                *                Canto  da cigarra:igual  a um papel vermelho
 ou  a um cata-vento de brinquedo!
     Extraído de POESIA  SEMPRE. Revista  semestral de poesia. Ano 10.  Número 17. Dezembro 2002. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca  Nacional, Ministério da Cultura, Departamento Nacional do Livro, 2002.  260 p. ilus. col. Editor geral Marco  Lucchesi.  ISSN 0104-0626   Ex. bibl. Antonio Miranda 
 
                 31 POETAS, 214 POEMAS.  DO  RIGVEDA A APOLLINAIRE. Uma antologia pessoal de poemas  traduzidos, com notas e comentários de Décio Pignatari.  Capa: Silvia Massaro.  São Paulo: Companhia das Letras, 1996.  132 p.     Ex. bibl. Antonio Miranda       
                    
                      Meu cachorro velhoOuvindo  com interesse
 O  canto do verme.
 
 *
 Da  mulher na praia,
 Sobre  a última maré,
 Espraia-se  a noite.
 
 *
 Em  nosso universo
 Breve,  passa, com pressa! E
 Graça,  a borboleta.
 
 *
 Noite  de verão.
 —  “Tão bonita e vai embora!”
 Sentem  os mais jovens,
 Lamentam  todos os homens
 (E  pensa Issa também).
 
 *
 Aos  pássaros, aos
 Não  pássaros, nossos campos
 “Asme-a  já” —proclamama.
 
 *
 Vento  frio, aonde
 Quer  ir? Instala-se, hirto,
 Num  talo de grama.
 
 *
 Pérolas  de orvalho!
 Olho  e vejo em cada gota
 A  minha casa-espelho
 
 *
 Lago,  pingos, tiros:
 Quá-quá,quá  dos patos patos
 Por  enquanto vivos.
 
 *
 Mordidas  de pulgas
 Na  moça bonita: até
 Elas  ficam belas!
 
 *
 OK,  pulgas, suguem
 A  pele em arquipélago e
 Sumam  arquipulgas!
 
 *
 A  nuvem que passa
 E  embaça a lua no imenso
 Céu  apenas flutua
 Para  findar em fumaça
 De  um universo suspenso?
 
 *
 Damas,  todas, essas
 E  reis, jogados na caixa:
 Peças  de xadrez.
 
 *
 Surgidos  do escuro,
 Somem  na moita, na noite:
 Amores  de um gato.
 
 *
 A  lua se foi
 Meu  rouxinol se calou
 Acabou-se  a noi-
 
 *
 Já  foi feita a escolha?
 Chegou  minha vez, isso?
 Gralha  barulhenta!
 
 *
 Quanto  inseto canta!
 Ócio!  Formiga silen-
 Ciosa  mostra a bunda.
 
 *
 Kimi nakute
 Too many and too wide iln truth —
 The  groves where we walked.
 
 de  ontem amor
 grandes  imensos os bosques
 sem  você perdidos
 
 *
 de  on tem a mor
 gran  des i men sos os bos ques
 sem  vo cê per di dos
 
 *kimi  nakute ni todai no kodachi kana
 
 de  on tem a mor gran des i mens os bos
 ques sem vo cê per di dos
 
 *De um banho (bebê)
 — Tatibitaquepatáqua —
 A um banho (defunto).
         Leia  também o ensaio: SOBRE O HAIKAI -por DECIO PIGNATARI – 
 
        Página publicada em abril de 2018; Página publicada em agosto de 2020
              
 
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